sexta-feira, 19 de março de 2010

Amanhã no Jornal do Brasil ( RJ )

Última gravação de Zé Rodrix dá corpo a canções francamente românticas

Nelson Gobbi, Jornal do Brasil

RIO DE JANEIRO - No início dos anos 70, entre o protorrock nacional e as canções de protesto, diferentes movimentos musicais emergiam, buscando lugar entre a herança bossanovista e a conexão com um público jovem.

Abrigados no gênero guarda-chuva MPB, os próprios grupos e artistas ganharam rótulos que, se por um lado davam uma unidade necessária à sua entrada no mercado fonográfico, por outro não contemplavam com exatidão todas as nuances de suas propostas, a exemplo do rock rural, que reuniu nomes como O Terço, Zé Geraldo e Sá, Rodrix e Guarabyra. O trio - e posteriormente dupla, com a saída de Zé Rodrix em 1973 – construiu sua trajetória dividido entre as referências do início da carreira e a adesão à canção popular. Reunidos novamente após 2002, com o lançamento do CD e DVD ao vivo Outra vez na estrada, os três souberam manter este equilíbrio em Amanhã, disco com 12 músicas inéditas que chega às lojas quase um ano depois da morte de Rodrix.

Riqueza instrumental

O mérito mais evidente do álbum é a falta de pudor em ser popular, em que pese a sofisticação dos arranjos, que muitas vezes remetem às experiências do início de carreira, a exemplo do tema de abertura, Sonho triste em Copacabana. A produção de Tavito – que traz ao estúdio uma riqueza instrumental cada vez mais rara atualmente, até mesmo em obras de medalhões da MPB – dá corpo a canções francamente românticas, como a faixa-título, Nós nos amaremos, Logo eu saudade e Amar direito, com seu belíssimo arranjo de acordeon. Apesar de Os dez mandamentos do amor pesar demais a mão e destoar do clima do disco, todas as outras têm potencial para figurar junto a sucessos da dupla Sá e Guarabyra como Dona e Espanhola.

A vertente “rural” do trio ganha reforço com Cidades meninas, compostas sobre municípios mineiros batizados com nomes femininos, a ecológica Dia do rio e a neo hippie Caminho de São Tomé. Mesmo nas faixas de temática urbana, as quais ressaltam a origem carioca do grupo, está presente a ambiguidade das referências do campo e da cidade, a exemplo da já citada Sonho triste em Copacabana e Novo Rio, que cria um diálogo interessante entre Futuros amantes, de Chico Buarque, e outro de seus sucessos enquanto dupla, Sobradinho.

É impossível deixar de relacionar o caráter póstumo legado ao disco a uma de suas melhores composições, Marina, eu só quero viver, na qual versos românticos como “Eu não quero fazer a viagem/ Me faltam dois contos e um pouco de coragem” remetem involuntariamente à perda prematura de Zé Rodrix. Talvez, contudo, seja essa a melhor forma de homenagem, com a mesma despretensão e espontaneidade com que o trio compôs uma das melhores músicas da década de 70, Mestre Jonas.

21:39 - 08/03/2010


quinta-feira, 18 de março de 2010

Show no SESC VIla Mariana na Semana Santa

Os ingressos para os shows de Sá & Guarabyra sábado, dia 3 de abril , e domingo, dia 4, no SESC Vila Mariana, já estão à venda em qualquer sede do SESC/SP.
Corra para comprar o melhor lugar e assistir ao lançamento de AMANHÃ!

quarta-feira, 10 de março de 2010

TOO OLD TO ROCK’N’ROLL, TOO YOUNG TO DIE..

Luiz Carlos Sá

(Coluna Vida de Artista da Revista Backstage*)

Em 1976 o Jethro Tull, grupo de rock britânico liderado pela figuraça do flautista, vocalista e compositor Ian Anderson - que costumava tocar sua flauta apoiado numa perna só como um estranho saci ruivo – lançou um disco com o título de “Too Old to Rock’n’Roll, Too Young to Die”. “Muito velho para o rock, muito novo para morrer”, clamava Ian, do alto dos seus vetustos vinte e nove anos...
Ian é de 1947, está aí vivão, bem disposto e tocando ainda com seu Jethro Tull pelo mundo afora e cuidando de sua criação chilena de salmões. Mas naquela época era assim mesmo: a gente achava que depois dos trinta só a morte nos esperava. Acreditávamos na eterna juventude proporcionada por um Rock’n’Roll, evidentemente contestatário, que exigia então ou que morrêssemos cedo ou que parássemos de tocar e fôssemos criar os filhos em Suburbia, abrindo lugar para a próxima onda enraivecida de rebeldes. Tínhamos enorme preconceito contra os “velhos”, termo que abrangia gente de todas as idades que não concordasse com nossa maneira de viver ou pensar. “Não confie em ninguém com mais de trinta anos/não confie em ninguém com mais de trinta cruzeiros” era o que aconselhava um hit de Marcos e Paulo Sergio Valle, ambos hoje sessentões e atuantes. Como se pode ver, pagamos nossa língua: muitos de nós ainda são vítimas desse eterno preconceito que ajudamos a criar nas décadas de 60 e 70. Justiça nos seja feita: o mundo estava mesmo muito velho, eh, eh, eh... Mas esquecíamos que para viver o presente e preparar o futuro tínhamos que olhar o passado. Bem verdade que, num acesso de lucidez, eu e meus parceiros Rodrix e Guarabyra intitulamos nosso primeiro LP, lançado em 72, de “Passado, Presente, Futuro”. Pensando melhor, acho que naqueles tempos de ditadura, “velhos” significava “opressores”...
Ainda há sinais de preconceito no horizonte pós-pós-moderno. Dou exemplos: no meu qüinquagésimo quarto aniversário eu estava num show do Cake, no MAM, Rio de Janeiro, dançando e cantando as letras que sabia de cor. De repente, virei-me pro lado e dei de cara com uma jovem moçoila que me olhava com uma expressão intrigada. Sorri para ela e fiz um gesto de “qual é?” e ela chegou mais perto e gritou no meu ouvido: “como é que o senhor sabe todas as letras?” Caramba, porque eu não saberia? Certamente ela pensava que gostar do Cake era um privilégio de outra geração! Esse preconceito, claro, não é generalizado, mas fica latente à medida que nossa “jovem” geração setentista, criada em meio ao então recém descoberto poder que a juventude nos emprestava, envelhece menos que as anteriores. Amparados pelo cavalar progresso tecnológico do século 21, morremos cada vez mais tarde e acumulamos uma experiência que pode ser extremamente valiosa, mas é vista como um obstáculo por quem vem atrás, batalhando por um lugar no mercado de trabalho, no mundo, na vida. No caso particular da música, o amadurecimento que aplaina as diferenças pessoais e – por que não citar a verdade de muitos casos? - a necessidade de juntar uma caixinha pra velhice faz com que mais e mais grupos de rock dos anos 70 e 80 se reúnam e voltem à estrada com uma energia insuspeitada, fazendo shows vibrantes para platéias de todas as idades: os pais, lembrando dos “bons tempos” e os filhos entendendo por que os pais achavam aqueles tempos tão bons. Acredito que isso aconteça por que o rock dessas décadas traga uma mensagem libertária ainda não efetivamente repetida nos tempos atuais, que para muitos de nós daquelas gerações parecem, ironicamente, mais restritivos e repressores.
Há poucos anos atrás eu conversava no aeroporto de Vitória com os Titãs Tony Belloto e Charles Gavin, queixando-me das exigências que as gravadoras faziam ao Sá, Rodrix & Guarabyra, pedindo sempre regravações de velhos sucessos. Para meu espanto eles se confessaram pressionados com as mesmas exigências, apesar de integrarem um grupo dez anos mais novo que o nosso. E há menos de um mês li uma entrevista do Charles, recém saído dos Titãs, falando sobre o stress que a estrada provoca em muitos de nós. Para sobrevivermos na doce selva da arte, ficamos distantes de casa, mal vendo os filhos crescerem, tendo que dedicar o essencial de nosso tempo de vida a ser um artista em evidência. Charles, por exemplo, fala que encheu o saco de ter que viajar pra fazer shows todo o fim de semana, o que seria sonho de consumo de 130% dos principiantes que conheço. Mas entendo perfeitamente o que ele quer dizer. E entendo mais ainda quando ele aponta a contradição entre ser um músico de rock e enfrentar a passagem do tempo. A cabeça muda. A música muda. Os objetivos mudam também. Não conheço um músico de qualidade sequer que não se canse um dia dos clichês roqueiros e parta para diversificar seus destinos musicais. Há sempre a necessidade de tentar novas experiências. Mesmo não significando infidelidade às origens, elas trazem um sabor diferente a ser provado. Afinal de contas, a inquietude não é um dos principais postulados do rock? Talvez por isso estejamos assistindo cada dia mais a tentativas de misturas entre nossas tradições musicais e os ritmos que chegam de fora, comprovando nossa tradição antropófaga (!) posta em evidência pelos tropicalistas. Então acontecem redescobertas de caras já não tão novos e com uma respeitável bagagem de estrada, tipo Lenine (que eu diria ser um “rockruralista” moderno, com seus derivados de xotes e baiões cheios de peso instrumental e vocal), Marcelo D2 e seus raps egressos do samba de quadra, etc.. Do outro lado da cerca, centenas de outros menos famosos de todos os tipos, gêneros e idades lutam por um lugar ao sol nessa floresta de myspaces, facebooks e similares, misturando tudo que é som numa geléia de inimaginável diversidade e qualidade quase sempre duvidosa .
“Muito velho para o rock, muito novo para morrer”... Acho que o que morreu mesmo foi o sentido dessa frase, enterrado sob cada show dos sessentésimos Rolling Stones, do AC/DC, do Deep Purple, do Metallica ainda com Ulrich e Hetfield e de muitos outros mais, que transformaram em condecoração o deboche contido no epíteto “dinossauros do rock”.Eu, particularmente, continuarei me divertindo no palco enquanto juntas, músculos, cartilagens e ossos agüentarem, ou até mesmo depois disso, já que não deve faltar muito até inventarem uma espécie de clone sensitivo que possamos colocar no palco com nossos pensamentos, palavras, aparências e gestos. E nós, dinossauros convictos, confortavelmente sentados numa poltrona na coxia, controlaremos nosso alter ego mecatrônico com um sofisticadíssimo joystick, recebendo em troca, num chip implantado diretamente em nossos corações, a inesquecível e indispensável carga energética da platéia em delírio...



*Do Livro Vida de Artista que será lançado em breve!

segunda-feira, 8 de março de 2010

Registro Eterno ( Jornal A Gazeta)

Registro eterno

08/03/2010 -

Vitor Ferri
vferri@redegazeta.com.br

Um material que já nasce para ficar guardado na memória da música brasileira e para matar a saudade dos fãs saudosistas. Assim caracteriza-se "Amanhã" (independente), novo disco do famoso trio Sá, Rodrix e Guarabyra, neste lançamento que é o último registro feito pelo grupo em sua formação original. Isso porque o CD chega às lojas quase um ano depois do falecimento súbito do músico Zé Rodrix, em 22 de maio de 2009, em São Paulo.

Antes de partir, Rodrix deixou um álbum inteirinho gravado e praticamente finalizado, feito ao lado de seus parceiros Luís Carlos Sá e Guttemberg Guarabyra. Mesmo desestabilizada com a perda de um dos pilares do trio, a dupla remanescente resolveu não engavetar o projeto. Afinal, o disco que marcaria o retorno do conjunto era algo muito aguardado pelos fãs e pelos próprios músicos.

"É uma alegria ver o disco na rua, mas, ao mesmo tempo, bate uma dor por não ter o Zé mais conosco. O disco era um sonho dele também. É uma ingratidão da natureza. Mas em nenhum momento pensamos que o material não fosse sair", explica Carlos Sá, em entrevista por telefone ao Caderno 2.

O músico conta que só não esperava a autorização da Justiça com tanta rapidez para o lançamento do material, afinal os trâmites legais para a liberação dos direitos quando um músico morre costumam demorar. A surpresa foi tamanha que a dupla nem teve tempo de pensar numa turnê de divulgação.

Gravação
Concebido e gravado entre maio e novembro de 2008, "Amanhã" é composto por 12 músicas inéditas, todas escritas pelos três músicos, e por algumas colaborações, com produção artística a cargo de Tavito, grande amigo do trio. Sá lembra que o trio ficou cerca de três meses dentro de um apartamento, em São Paulo, escrevendo, musicando e testando o conteúdo produzido. Só depois é que eles foram para os estúdios.

O músico faz questão de dizer que o novo disco não representa nenhuma quebra de paradigma sonoro perpetuado por eles até então. Apesar de novo, o disco tem um pé no passado. "A gente se preocupa muito com a questão da marca. Temos confiança em nosso estilo. Por isso, não nos preocupamos em atualizar nosso som. Os clássicos duram mais. É claro que não agradamos a gregos e troianos, mas essa nem é a nossa maneira de trabalhar. Não somos artistas da grande massa, sabemos disso", revela Sá.

Ele emenda: "Nós cantamos o que gostamos. Temos que ser modernos, mas não ridiculamente modernos. Acredito que nós nos superamos nesse disco e é isso que a gente quer. Esse álbum me fez uma pessoa e um músico melhor", finaliza o músico, dizendo ainda que, com a morte de Rodrix, o trio perdeu personalidade.

Sá, Rodrix e Guarabyra
"Amanhã"
Independente 12 faixas
Quanto: R$ 20 (Em Média)


Fatos marcantes na carreira do trio
1970. O trio Sá, Rodrix Guarabyra nasceu no início da década. Eles criaram o chamado rock rural, músicas sertanejas com elementos de rock.

1971. "Casa no Campo", composição de Rodrix e do músico Tavito, ganhou o Festival de Juiz de Fora. A canção fez muito sucesso na voz de Elis Regina.

Discos. Dois álbuns do trio fizeram um enorme sucesso quando lançados: "Passado, Presente, Futuro" (1972) e "Terra" (1973).

Sucessos. Desses álbuns saíram sucessos como: "Me Faça um Favor", "Mestre Jonas", "Azular" e "Hoje Ainda é Dia de Rock".

Separação. Em 1973, o trio de separou. Rodrix seguiu carreira solo. Sá e Guarabyra seguiram em dupla.

Mais sucessos. Mesmo com a separação, os sucessos continuaram: "Roque Santeiro", "Jesus numa Moto", "Casa no Campo", "Espanhola", "Dona" e "Ribeirão".

Regravações. Vários artistas consagrados regravaram canções do trio: Elis Regina, Roupa Nova, Milton Nascimento, Erasmo Carlos, Nara Leão, Gilberto Gil e até Belle Sebastian (banda indie pop escocesa).

Anos 2000. No início dos anos 2000, o trio se reuniu novamente.

2001. Neste ano, o trio se apresentou no Rock in Rio 3.

Ao vivo. Em 2002, para marcar o reencontro, eles lançaram o CD e DVD ao vivo "Outra Vez na Estrada" (Som Livre), com os maiores sucessos e composições inéditas.

2008. O trio começa a gravar "Amanhã", que chega somente agora às lojas.

Morte. Um mês após finalizar o CD, em maio de 2009, o músico Rodrix faleceu, em São Paulo.


Na velha e boa forma dos anos 70
Análise
Vitor Ferri - Jornalista

O álbum "Amanhã" se destaca por trazer o trio na velha e boa forma de antes. Com letras diferenciadas, melodias pegajosas e arranjos vocais bem feitos, o material traz a mesma alegria presente nos discos do início de sua carreira.
http://www.youtube.com/watch?v=6Mp8YcHxXLE&feature=player_embedded

O CD tem espaço para a viajante "Sonho Triste em Copacabana", com destaque para os vocais bem construídos. "Novo Rio" remete ao Rio de Janeiro e à origem do trio. O legal dessa canção é a batida funk que pode ser ouvida ao fundo, principalmente no refrão. A alegre "Dia do Rio" é uma das que mais fazem lembrar o trio dos anos 1970.

Já "Cidades Meninas" ficou mais parecida com a sonoridade dos anos 80 da dupla Sá Guarabyra, e faz referência às cidades com nomes de mulheres, em Minas Gerais. Até uma levada mais pop aparece no disco, na faixa "Caminho de São Tomé". Tem pique para grudar no ouvido.

As baladas não foram esquecidas. "Nós nos Amaremos", com bom piano de Rodrix, e "Amanhece um Outro Dia", sobre esperança, desempenham bem essa função.
http://www.youtube.com/watch?v=y3RLAHdOwbA&feature=player_embedded

Outro destaque do CD é "Logo eu, Saudade". É uma das mais ricas do trabalho, com bons arranjos de metais. Sá a define como uma "modinha caipira metida a besta". A faixa, que encerra o disco, funciona como uma "Casa no Campo 2" por causa dos versos: "Tudo o que eu quero na vida é um lugar pra poder me abrigar/Uma morena, um bom vinho, um pedaço de mar".

http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2010/03/610051-registro+eterno.html


Com o Pé na Estrada ( matéria do jornal O Estado de Minas)

MÚSICA
Com o pé na estrada
Sem o amigo e parceiro Zé Rodrix, morto em maio do ano passado,
a dupla Sá & Guarabyra começa a divulgar o inédito álbum Amanhã,
último trabalho que os três gravaram juntos
Ailton Magioli
Jorge%u2019s Estúdio/Divulgação
Luiz Carlos Sá, Zé Rodrix e Gutemberg Guarabyra voltaram a tocar e cantar como trio depois de uma separação que durou mais de 20 anos

Coube oportunamente a Zé Rodrix o privilégio de abrir Amanhã, o quarto e último disco do trio Sá, Rodrix & Guarabyra, que voltou a se reunir depois de mais de 20 anos e acabou interrompido pela morte súbita do músico, em maio do ano passado. Com direito a quatro solos vocais – Dia do rio, Caminho de São Tomé e Sonho triste em Copacabana, além da faixa título –, Zé Rodrix deixa sua marca bem evidente no CD, no qual também assina arranjos para metais, vocais e cordas, além de tocar piano. Na opinião do amigo e parceiro Luiz Carlos Sá, Zé Rodrix vivia um grande momento. “Ele se depurou, aperfeiçoou a técnica e, como arranjador, cresceu muito”, elogia.

À primeira audição, admite Luiz Carlos Sá, surge o sentimento de perda. “Não só do amigo, mas o sentimento de você ter perdido algum trabalho em andamento”, descreve o músico, comparando a morte de Zé Rodrix a uma batida de carro em alta velocidade. Segundo Sá, enquanto não se define a agenda de lançamentos de Amanhã, ele e Gutemberg Guarabyra prosseguem em dupla, tendo encontrado inclusive uma forma de cantar algumas das canções inéditas do trio, já testadas durante o show de pré-lançamento, em São Paulo.

Na apresentação, Sá & Guarabyra fizeram a faixa que dá nome ao disco, além de Os dez mandamentos do amor, Nós nos amaremos e Marina, eu só quero viver. “Estamos estudando colocar pelo menos mais duas canções nos próximos shows”, avisa Sá, enquanto aguarda a escolha da faixa de trabalho pelas próprias emissoras de rádio. “É uma situação difícil”, reconhece, salientando ser muito diferente ouvir Gutemberg Guarabyra, por exemplo, fazendo um solo de uma música dele. “A gente fica nesta dúvida, se vou, por exemplo, cantar Sonho triste em Copacabana, no disco interpretado pelo Zé”, resume.

SOLUÇÕES “Em Amanhã, também gravada pelo Zé, a gente conseguiu uma solução”, conta Luiz Carlos Sá. “O Guarabyra começa cantando e coisa e tal, e eu continuo. À primeira vista nos pareceu estranho, porque entra um solo e depois outro. Mas o resultado foi tão bom que a gente até se animou a pegar mais um ou dois solos do Zé no disco e tentar fazer alguma coisa, como fizemos com Amanhã.”

Criado inicialmente para trio, o show do projeto Rock Rural, do Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB) – que não tem nada a ver com o disco Amanhã, segundo Sá –, será levado agora a São Paulo. “Engraçado que as pessoas não distinguem muito Sá, Rodrix & Guarabyra”, reconhece Sá. “Num dos primeiros shows que fizemos na volta do trio, elas diziam: ‘Olha, é o Sá & Guarabyra com o Zé Rodrix’, como se nunca tivesse existido o trio. Em termos de carreira, tirando a dor da perda e a parte musical, a carreira da dupla prossegue normalmente.”

“Em trio ou em dupla, a gente sempre trabalhou por solicitação. É raro, muito raro, a gente bancar alguma coisa”, revela Sá, consciente da força musical que acabou se tornando uma espécie de grife. Oito anos se passaram desde o lançamento de Outra vez na estrada, que marcou oficialmente o retorno do trio à carreira, desfeita 26 anos antes com a saída de Zé Rodrix e o prosseguimento da dupla Sá & Guarabyra. Retornar em dupla, portanto, não é tão difícil. “Na realidade, foi menos trabalhoso do que a gente esperava, porque coisas do repertório voltaram – aquelas que a gente sabe que não pode deixar de cantar nos shows – e as inéditas são as do disco do trio, em que a gente usa muito o baixista Pedrão Baldanza fazendo a terceira voz”, justifica Luiz Carlos Sá.

INCÓGNITA Luiz Carlos Sá descarta a hipótese de uma terceira pessoa vir a ocupar a vaga de Zé Rodrix. “Só quando a gente sentar para conversar e ver o que temos de inédito, em dupla, é que poderemos ver para que lado vamos tender. Como já vínhamos de dupla, incluir uma terceira pessoa seria uma incógnita, porque a gente sabia que, com a volta do Zé, teríamos confiança do que iria acontecer.” Responsável pela produção e também parte dos arranjos e vocais de Amanhã, o amigo Tavito (autor da clássica Rua Ramalhete) seria, na opinião de Sá, a pessoa certa para ocupar o lugar de Zé Rodrix no trio, caso fosse necessário.

Devidamente dosado em termos de autoria e de interpretação, o disco foi feito no mesmo esquema dos anteriores. “A gente se junta e, quando faltam três faixas, se dá ao direito de cada um impor ao outro o que quer gravar”, explica Sá, lembrando que Guarabyra quis regravar Nós nos amaremos, que havia lançado em seu disco solo, enquanto ele escolheu a faixa Amar direito e Zé Rodrix, Caminho de São Tomé.

“Não são necessariamente músicas que havíamos recusado, mas músicas que queríamos fazer. Nós nos amaremos, por exemplo, está sendo apontada, inclusive, como uma das músicas de trabalho”, informa Luiz Carlos Sá. As inéditas Novo rio, Dia do rio, Amar direito, Logo eu, saudade e Cidades meninas (uma homenagem às cidades mineiras com nomes femininos) completam o repertório, em que Amanhece um outro dia foi originalmente gravada para a abertura da novela Revelação, do SBT/Alterosa.


ROCK RURAL
Amanhã é o quarto disco do trio, que gravou Passado, presente, futuro (1972), Terra (1973) e Outra vez na estrada (2002). Apesar do registro ao vivo na Virada Cultural de São Paulo, de 2002, o show do disco Passado, presente, futuro, com direito a orquestra, desapareceu.

Com mais de 500 composições em conjunto ou com outros autores, o trio foi gravado por Elis Regina, Roupa Nova, Milton Nascimento, Zizi Possi, Belle & Sebastian, Biquíni Cavadão, Elza Soares, Erasmo Carlos, Pery Ribeiro, MPB 4, Quarteto em Cy, Nara Leão, Ornella Vanoni, Ira!, Tavito, Ivan Lins, 14 Bis, Gilberto Gil, João Donato, Simone, Evinha e Golden Boys, entre outros.

Mestre Jonas, Espanhola, Caçador de mim, Roque santeiro, Primeira canção da estrada, Dona e Sobradinho são os principais hits do trio e da dupla.

Ex-jornalistas, Luiz Carlos Sá foi da equipe de O Sol e editou o suplemento musical Plug, do Correio da Manhã; Zé Rodrigues passou pelo Zero Hora, de Porto Alegre, na década de 1960; Gutemberg Guarabyra teve suas crônicas distribuídas nacionalmente pela Agência Estado.

No campo literário, Zé Rodrix é autor da Trilogia do Templo (Record); Guarabyra lançou O outro lado do mundo (Moderna) e faz pesquisa, atualmente, para um romance histórico: Sá prepara Vida de artista, compilação das crônicas mensais que publica na revista BackStage e que
sairá pela Editora Sheldon


Matéria publicada no Estado de Minas

dia 8 de março de 2010